segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Prosa Romântica no Brasil

A prosa literária brasileira começa de fato no Romantismo, com os folhetins, que são histórias publicadas em capítulos nos jornais. Quando uma dessas histórias fazia sucesso, era lançada em forma de livro. Assim nasceram quase todos os romances importantes do século XIX no Brasil.

Tendências do romance romântico

De acordo com o tema principal que desenvolvem, os romances românticos podem ser classificados em:

·  Romance urbano – desenvolve temas relacionados à vida na cidade.
·  Romance sertanejo ou regionalista – aborda temas e situações que se passam longe dos centros urbanos. Focaliza a gente do interior, com seus costumes e valores peculiares.
·  Romance histórico – volta-se para o passado, numa reinterpretação nacionalista de fatos e personagens da nossa história.
·  Romance indianista – enfoca a figura do índio, idealizando-o.


Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882)

Extraindo da vida social da época personagens e situações, Joaquim Manuel de Macedo transpunha para o romance os tipos humanos que circulavam pelas casas e festas burguesas do Rio de Janeiro: o estudante conquistador, a moça namoradeira, o velhote metido a galã. As paisagens eram as praias desertas e convidativas ou as matas da Tijuca, por exemplo.
Além da estruturação do enredo – arte de prender a atenção do leitor, que Macedo rapidamente dominou -, a linguagem simples e coloquial é outro aspecto que aproxima ainda mais o autor de seu público. Suas personagens falam dos mesmos assuntos que as pessoas de seu tempo, usando a mesma linguagem.
Suas principais obras foram A moreninha, considerado por muitos estudiosos o primeiro trabalho romântico brasileiro digno de nota e O moço loiro.



Bernardo de Guimarães (1825-1884)

Quando esquentavam os debates sobre a questão abolicionista, Bernardo de Guimarães escreveu o romance A escrava Isaura, uma obra que apresenta todos os elementos tipicamente românticos e, apesar do título, não chega a enfrentar o problema da escravidão. É um caso de amor que move o romance, e não o problema social e humano da escravidão.



Taunay (1843-1899)

O interior do Brasil, com seus tipos humanos característicos e suas rígidas normas de comportamento social e familiar, constituiu uma fonte de grande interesse para os escritores românticos, que, na verdade, abriram o filão do romance sertanejo para a nossa literatura. A obra Inocência, de Alfredo d’Escragnolle Taunay, é considerada o melhor romance sertanejo do Romantismo.
Taunay deixou uma obra extensa, composta de romances, contos, peças de teatro, memórias etc. seus principais livros são: Inocência (1872) e A Retirada da Laguna (1874, diário de guerra).
O romance Inocência transcorre no ambiente rústico do interior do Mato Grosso. A jovem Inocência apaixona-se por Cirino, curandeiro ambulante que passava por médico e fora levado a sua casa pelo pai, Pereira, um mineiro rude, para tratar da saúde dela. Cirino é o primeiro homem a despertar-lhe realmente as emoções do amor, criando nela uma grande perturbação íntima, pois estava prometida ao rude vaqueiro Manecão.
Além de Cirino, encontra-se na casa de Pereira um naturalista alemão, Meyer, que estava no Brasil à procura de novas espécies de borboletas. Desconhecendo os preconceitos que marcavam a vida familiar sertaneja, Meyer não esconde sua admiração pela beleza de Inocência. Isso preocupa Pereira, que passa a vigiá-lo constantemente, dando oportunidade a Cirino de comunicar-se mais facilmente com a moça.
Com a partida de Meyer, as coisas se complicam, aumentando o medo de Inocência, que teme uma reação violenta do pai caso venha a saber do romance. A jovem instrui Cirino a procurar seu padrinho para que ele convença Pereira a concordar com o rompimento do compromisso com Manecão. Na ausência de Cirino, porém, o idílio é descoberto por Tico, um anão que espreitava continuamente Inocência. Manecão persegue Cirino e o mata. Algum tempo depois, morre Inocência.


José de Alencar (182-1877)

A obra do mais importante prosador do Romantismo pode ser assim esquematizada:
·  Romance social ou urbano à Cinco Minutos, A Viuvinha, Lucíola, Diva, A Pata da Gazela, Sonhos d’Ouro, Senhora, Encarnação.
·  Romance regionalista à O gaúcho, O tronco do ipê, Til, O sertanejo.
·  Romance histórico à O Guarani, As minas de Prata, A Guerra dos Mascates.
·  Romance indianista à Iracema, Ubirajara.
Nos romances sociais, Alencar revela seu talento de observador da alma humana, fazendo o estudo de certas figuras femininas. A esses estudos ele deu o nome de “perfis femininos”, dentre os quais se destacam o de Aurélia (em Senhora) e de Lúcia (em Lucíola). Alguns anos depois, Machado de Assis aprofundaria essa linha de análise psicológica do romance brasileiro.
Alencar destaca-se por ter defendido um estilo “brasileiro” na língua literária. Reivindicando o direito dos brasileiros a uma língua e literatura com fisionomia própria (porque isso era uma inevitável conseqüência do nosso desenvolvimento como nação independente), Alencar protestou contra os puristas, que achavam que nossos escritores deveriam escrever tal como se fazia em Portugal: “É essa submissão que eu não tolero; e, como já disse uma vez, quebraria a pena antes, do que aceitar semelhante expatriação literária. Admiremos Portugal nas tradições grandiosas de seu passado; nos esforços generosos de seu renascimento; prezemos sua literatura e seus costumes; porém, nunca imita-lo servilmente. Importaria anular nossa individualidade”.


Manuel Antônio de Almeida (1831-1861)

Em 1852, os capítulos semanais do folhetim Memórias de um sargento de milícias, publicado pelo Correio Mercantil, do Rio de Janeiro, começam a fazer sucesso entre os leitores cariocas. Ninguém sabia quem era o autor, pois ele se escondia atrás do pseudônimo “Um brasileiro”. Mas com certeza era alguém que conhecia muito bem os becos, as praças, as tradições e os tipos humanos da cidade do Rio de Janeiro, onde transcorria a história. Publicado mais tarde em livro, esse folhetim do carioca Manuel Antônio de Almeida passou a ocupar um lugar especial na história do nosso Romantismo.
Memórias de um sargento de milícias mostra a vida da gente do povo, que vive nas casinhas simples do Rio de Janeiro “do tempo do rei” (D. João VI). A figura central, que garante a unidade das várias ações que se sucedem num ritmo bastante dinâmico, é Leonardo, filho enjeitado de Leonardo Pataca e Maria da Hortaliça e que foi criado pelos padrinhos: a parteira (a comadre) e um barbeiro (o compadre).


O romance conta as peripécias de Leonardo, seus casos com a mulata Vidinha, o namoro sério com Luisinha (com quem acaba casando-se no final) e seus planos para conseguir escapar da vigilância do severo major Vidigal, sempre de olho nele.

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