A prosa literária
brasileira começa de fato no Romantismo, com os folhetins, que são histórias
publicadas em capítulos nos jornais. Quando uma dessas histórias fazia sucesso,
era lançada em forma de livro. Assim nasceram quase todos os romances
importantes do século XIX no Brasil.
Tendências do romance romântico
De acordo com o tema
principal que desenvolvem, os romances românticos podem ser classificados em:
· Romance urbano – desenvolve temas relacionados à vida na
cidade.
· Romance sertanejo ou regionalista – aborda temas e
situações que se passam longe dos centros urbanos. Focaliza a gente do
interior, com seus costumes e valores peculiares.
· Romance histórico – volta-se para o passado, numa
reinterpretação nacionalista de fatos e personagens da nossa história.
· Romance indianista – enfoca a figura do índio, idealizando-o.
Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882)
Extraindo da vida
social da época personagens e situações, Joaquim Manuel de Macedo transpunha
para o romance os tipos humanos que circulavam pelas casas e festas burguesas
do Rio de Janeiro: o estudante conquistador, a moça namoradeira, o velhote
metido a galã. As paisagens eram as praias desertas e convidativas ou as matas
da Tijuca, por exemplo.
Além da estruturação do
enredo – arte de prender a atenção do leitor, que Macedo rapidamente dominou -,
a linguagem simples e coloquial é outro aspecto que aproxima ainda mais o autor
de seu público. Suas personagens falam dos mesmos assuntos que as pessoas de
seu tempo, usando a mesma linguagem.
Suas principais obras foram
A moreninha, considerado por muitos
estudiosos o primeiro trabalho romântico brasileiro digno de nota e O moço loiro.
Bernardo de Guimarães
(1825-1884)
Quando esquentavam os
debates sobre a questão abolicionista, Bernardo de Guimarães escreveu o romance
A escrava Isaura, uma obra que
apresenta todos os elementos tipicamente românticos e, apesar do título, não
chega a enfrentar o problema da escravidão. É um caso de amor que move o
romance, e não o problema social e humano da escravidão.
Taunay (1843-1899)
O interior do Brasil,
com seus tipos humanos característicos e suas rígidas normas de comportamento
social e familiar, constituiu uma fonte de grande interesse para os escritores
românticos, que, na verdade, abriram o filão do romance sertanejo para a nossa
literatura. A obra Inocência, de
Alfredo d’Escragnolle Taunay, é considerada o melhor romance sertanejo do
Romantismo.
Taunay deixou uma obra
extensa, composta de romances, contos, peças de teatro, memórias etc. seus
principais livros são: Inocência (1872)
e A Retirada da Laguna (1874, diário
de guerra).
O romance Inocência transcorre no ambiente rústico
do interior do Mato Grosso. A jovem Inocência apaixona-se por Cirino,
curandeiro ambulante que passava por médico e fora levado a sua casa pelo pai,
Pereira, um mineiro rude, para tratar da saúde dela. Cirino é o primeiro homem
a despertar-lhe realmente as emoções do amor, criando nela uma grande
perturbação íntima, pois estava prometida ao rude vaqueiro Manecão.
Além de Cirino,
encontra-se na casa de Pereira um naturalista alemão, Meyer, que estava no
Brasil à procura de novas espécies de borboletas. Desconhecendo os preconceitos
que marcavam a vida familiar sertaneja, Meyer não esconde sua admiração pela
beleza de Inocência. Isso preocupa Pereira, que passa a vigiá-lo
constantemente, dando oportunidade a Cirino de comunicar-se mais facilmente com
a moça.
Com a partida de Meyer,
as coisas se complicam, aumentando o medo de Inocência, que teme uma reação
violenta do pai caso venha a saber do romance. A jovem instrui Cirino a
procurar seu padrinho para que ele convença Pereira a concordar com o
rompimento do compromisso com Manecão. Na ausência de Cirino, porém, o idílio é
descoberto por Tico, um anão que espreitava continuamente Inocência. Manecão persegue
Cirino e o mata. Algum tempo depois, morre Inocência.
José de Alencar (182-1877)
A obra do mais
importante prosador do Romantismo pode ser assim esquematizada:
· Romance social ou urbano à Cinco Minutos, A Viuvinha, Lucíola, Diva, A Pata da Gazela, Sonhos
d’Ouro, Senhora, Encarnação.
· Romance regionalista à O gaúcho, O tronco do ipê, Til, O sertanejo.
· Romance histórico à O Guarani, As minas de Prata, A Guerra dos Mascates.
· Romance indianista à Iracema, Ubirajara.
Nos romances sociais,
Alencar revela seu talento de observador da alma humana, fazendo o estudo de
certas figuras femininas. A esses estudos ele deu o nome de “perfis femininos”,
dentre os quais se destacam o de Aurélia (em Senhora) e de Lúcia (em Lucíola).
Alguns anos depois, Machado de Assis aprofundaria essa linha de análise
psicológica do romance brasileiro.
Alencar destaca-se por
ter defendido um estilo “brasileiro” na língua literária. Reivindicando o
direito dos brasileiros a uma língua e literatura com fisionomia própria
(porque isso era uma inevitável conseqüência do nosso desenvolvimento como
nação independente), Alencar protestou contra os puristas, que achavam que
nossos escritores deveriam escrever tal como se fazia em Portugal: “É essa
submissão que eu não tolero; e, como já disse uma vez, quebraria a pena antes,
do que aceitar semelhante expatriação literária. Admiremos Portugal nas
tradições grandiosas de seu passado; nos esforços generosos de seu
renascimento; prezemos sua literatura e seus costumes; porém, nunca imita-lo
servilmente. Importaria anular nossa individualidade”.
Manuel Antônio de Almeida
(1831-1861)
Em 1852, os capítulos semanais
do folhetim Memórias de um sargento de
milícias, publicado pelo Correio
Mercantil, do Rio de Janeiro, começam a fazer sucesso entre os leitores
cariocas. Ninguém sabia quem era o autor, pois ele se escondia atrás do
pseudônimo “Um brasileiro”. Mas com certeza era alguém que conhecia muito bem
os becos, as praças, as tradições e os tipos humanos da cidade do Rio de
Janeiro, onde transcorria a história. Publicado mais tarde em livro, esse
folhetim do carioca Manuel Antônio de Almeida passou a ocupar um lugar especial
na história do nosso Romantismo.
Memórias de um sargento de milícias mostra a vida da gente
do povo, que vive nas casinhas simples do Rio de Janeiro “do tempo do rei” (D.
João VI). A figura central, que garante a unidade das várias ações que se
sucedem num ritmo bastante dinâmico, é Leonardo, filho enjeitado de Leonardo
Pataca e Maria da Hortaliça e que foi criado pelos padrinhos: a parteira (a
comadre) e um barbeiro (o compadre).
O romance conta as
peripécias de Leonardo, seus casos com a mulata Vidinha, o namoro sério com
Luisinha (com quem acaba casando-se no final) e seus planos para conseguir
escapar da vigilância do severo major Vidigal, sempre de olho nele.
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