terça-feira, 27 de outubro de 2015

Introdução ao Romantismo



“Epa, epa!” Calma! Quando falamos em “Romantismo”, nos vem logo à cabeça a ideia de que estamos falando sobre um tipo de personalidade. Considera-se “romântica” a pessoa cujo caráter apresenta um conjunto de valores, como o gostar de dar e receber flores, de apreciar a leitura e declamação de poemas que abordem a temática amorosa, de emocionar-se com facilidade e tratar a pessoa amada com carinho e excesso de desvelo e delicadeza. É comum ver esse tipo de pessoa isolado dos demais, fazendo uma viagem interior tendo como fundo musical canções chamadas românticas arquivadas em seu MP4…
Entretanto, não é esse o tipo de Romantismo que estudaremos em Literatura. Na nossa disciplina, chamamos de “Romantismo” um amplo movimento que surgiu no século XIX e representou artisticamente os anseios da burguesia.


I.       Contexto histórico

O Romantismo, como escola literária, predominou na Europa na primeira metade do século XIX. Entretanto, o seu surgimento aconteceu no período imediatamente posterior à Revolução Francesa.
Lembremo-nos que a postura racional associada ao Iluminismo durante a maior parte do século XVIII permeou a Literatura nos textos arcádicos, que traduziam uma visão mais otimista da vida, com pastores e pastoras celebrando o amor em um cenário bucólico (campestre). Essas características serão fortemente desafiadas pela nova orientação cultural predominante no século XIX, associada ao Romantismo, que valoriza a livre expressão das emoções humanas.
Após a Revolução Francesa, o absolutismo europeu chegou ao final, incentivando o individualismo econômico e o nacionalismo. Essa conjuntura impeliu os artistas a voltarem os seus olhos para a burguesia, que surgia como alguém com cabedal financeiro, mas não intelectual. Portanto, era necessária uma transformação cultural equivalente à transformação política, oriunda da parte dos burgueses.
Em 1793, Luís XVI foi executado por haver conspirado contra a Revolução Francesa, considerada a primeira tentativa de colocar em prática os ideais iluministas.


II.      Características Literárias

As autoras Abaurre, Pantara e Fadel (2003:46) apresentam uma caracterização completa acerca dos porquês da exaltação da imaginação e dos sentimentos, presentes nesse movimento. “O burguês apresentava, aos olhos da aristocracia européia, um defeito grave e insuperável: não tinha linhagem, não tinha tradição, não tinha estirpe. Em outras palavras, não era nobre, não tinha ‘sangue azul’. Para compensar a falta de ancestrais nobres, de uma linhagem que pudesse ser artisticamente exaltada, era necessária a criação de um novo parâmetro de beleza, que substituísse aquele em voga na época, no qual os burgueses pudessem também se reconhecer.
A diferença entre o indivíduo e a sociedade em que vive será de extrema importância para os românticos. Deslocados socialmente, dotados de uma extrema sensibilidade e de uma alma pura, só restará aos novos artistas uma saída: a fuga do presente para um passado idealizado ou um futuro utópico”.
Durante o século XVII, o resgate da perspectiva e da harmonia clássicas marcou o trabalho dos pintores e produziu obras em que a precisão do detalhe contribuía para criar, no observador, a sensação de objetividade.
A estética romântica promove uma imprecisão de contornos e gera um senso de indefinição que provoca no observador uma sensação de maior subjetividade.

O grande canal visto de São Vito, de Canaletto, 1734

Veneza, de William Turner, 1843


A fuga do presente e da realidade

Os ideais da Revolução Francesa, baseados no trinômio “liberdade, igualdade e fraternidade”, não foram percebidos pelos jovens europeus de algumas décadas posteriores à revolução. Como consequência, enquanto alguns ainda confiavam nos destinos da revolução burguesa, outros caíram em um forte pessimismo, adotando uma postura de fuga da realidade. Foge-se para qualquer lugar: o passado (a Idade Média ou a infância), o futuro, a natureza, o sonho, a loucura, o “eu”, a vida boêmia, a morte.

Filhos de uma nação

O nacionalismo, uma das mais discutidas características do Romantismo, é uma consciência partilhada por um grupo de indivíduos que se sente ligado a uma terra e que possui uma cultura e uma história comuns, marcadas por eventos vividos em conjunto.
A Revolução Francesa trouxe o sentimento nacionalista para a Europa do século XIX. A transformação política decorrente do processo revolucionário estabeleceu o princípio de que a soberania não tem existência em si mesma: ela deriva da nação, do povo como um todo. O estado não pode mais ser visto como uma “propriedade” particular do governante – como era no Absolutismo –, ele só se legitima na medida em que incorpora a vontade do povo que o constitui.
O indivíduo deixa de ver-se como um súdito do rei e passa a ser o cidadão de uma terra unida, a pátria. É da união dessas duas idéias (o povo dotado de soberania e unido em uma nação) que nasce o ideal nacionalista.
O nacionalismo romântico emerge com força total na Alemanha, onde surge o conceito de “alma do povo” (“volkgeist”), pelo qual cada povo é único e criativo e expressa seu gênio na linguagem, na literatura, nos monumentos e tradições populares.

Fique por dentro!!!
A estética romântica assumiu uma feição anticlássica, proclamando a liberdade individual do artista, eximindo-o da necessidade de imitação dos clássicos greco-latinos.
O sentimento nacionalista fez com que lendas populares de inspiração medieval fossem recuperadas, para valorização do heroísmo e da nobreza de caráter, permitindo a construção de uma identidade nacional que recuperasse a "alma do povo".

A livre expressão de sentimentos conferiu aos românticos a alcunha de sentimentalistasa e individualistas, associando-os à manifestação de uma imaginação intensa, permeada pela atividade noturna e sonhadora. Em decorrência disso, a fuga da realidade era marcante nas obras literárias do período.

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