“Epa,
epa!” Calma! Quando falamos em “Romantismo”, nos vem logo à cabeça a ideia de
que estamos falando sobre um tipo de personalidade. Considera-se “romântica” a
pessoa cujo caráter apresenta um conjunto de valores, como o gostar de dar e
receber flores, de apreciar a leitura e declamação de poemas que abordem a
temática amorosa, de emocionar-se com facilidade e tratar a pessoa amada com
carinho e excesso de desvelo e delicadeza. É comum ver esse tipo de pessoa
isolado dos demais, fazendo uma viagem interior tendo como fundo musical
canções chamadas românticas arquivadas em seu MP 4…
Entretanto,
não é esse o tipo de Romantismo que estudaremos em Literatura. Na
nossa disciplina, chamamos de “Romantismo” um amplo movimento que surgiu no
século XIX e representou artisticamente os anseios da burguesia.
I. Contexto
histórico
O
Romantismo, como escola literária, predominou na Europa na primeira metade do
século XIX. Entretanto, o seu surgimento aconteceu no período imediatamente
posterior à Revolução Francesa.
Lembremo-nos
que a postura racional associada ao Iluminismo durante a maior parte do século
XVIII permeou a Literatura nos textos arcádicos, que traduziam uma visão mais
otimista da vida, com pastores e pastoras celebrando o amor em um cenário
bucólico (campestre). Essas características serão fortemente desafiadas pela
nova orientação cultural predominante no século XIX, associada ao Romantismo,
que valoriza a livre expressão das emoções humanas.
Após
a Revolução Francesa, o absolutismo europeu chegou ao final, incentivando o
individualismo econômico e o nacionalismo. Essa conjuntura impeliu os artistas
a voltarem os seus olhos para a burguesia, que surgia como alguém com cabedal
financeiro, mas não intelectual. Portanto, era necessária uma transformação
cultural equivalente à transformação política, oriunda da parte dos burgueses.
Em
1793, Luís XVI foi executado por haver conspirado contra a Revolução Francesa,
considerada a primeira tentativa de colocar em prática os ideais iluministas.
II. Características
Literárias
As
autoras Abaurre, Pantara e Fadel (2003:46) apresentam uma caracterização
completa acerca dos porquês da exaltação da imaginação e dos sentimentos,
presentes nesse movimento. “O burguês apresentava, aos olhos da aristocracia
européia, um defeito grave e insuperável: não tinha linhagem, não tinha
tradição, não tinha estirpe. Em outras palavras, não era nobre, não tinha
‘sangue azul’. Para compensar a falta de ancestrais nobres, de uma linhagem que
pudesse ser artisticamente exaltada, era necessária a criação de um novo
parâmetro de beleza, que substituísse aquele em voga na época, no qual os
burgueses pudessem também se reconhecer.
A
diferença entre o indivíduo e a sociedade em que vive será de extrema
importância para os românticos. Deslocados socialmente, dotados de uma extrema
sensibilidade e de uma alma pura, só restará aos novos artistas uma saída: a
fuga do presente para um passado idealizado ou um futuro utópico”.
Durante
o século XVII, o resgate da perspectiva e da harmonia clássicas marcou o
trabalho dos pintores e produziu obras em que a precisão do detalhe contribuía
para criar, no observador, a sensação de objetividade.
A
estética romântica promove uma imprecisão de contornos e gera um senso de
indefinição que provoca no observador uma sensação de maior subjetividade.
O grande canal visto de São Vito, de Canaletto, 1734 |
Veneza, de William Turner, 1843 |
A fuga do
presente e da realidade
Os
ideais da Revolução Francesa, baseados no trinômio “liberdade, igualdade e
fraternidade”, não foram percebidos pelos jovens europeus de algumas décadas
posteriores à revolução. Como consequência, enquanto alguns ainda confiavam nos
destinos da revolução burguesa, outros caíram em um forte pessimismo, adotando
uma postura de fuga da realidade. Foge-se para qualquer lugar: o passado (a
Idade Média ou a infância), o futuro, a natureza, o sonho, a loucura, o “eu”, a
vida boêmia, a morte.
Filhos de
uma nação
O
nacionalismo, uma das mais discutidas características do Romantismo, é uma
consciência partilhada por um grupo de indivíduos que se sente ligado a uma terra e que possui uma cultura e uma história comuns, marcadas por eventos
vividos em conjunto.
A
Revolução Francesa trouxe o sentimento nacionalista para a Europa do século
XIX. A transformação política decorrente do processo revolucionário estabeleceu
o princípio de que a soberania não tem existência em si mesma: ela deriva da
nação, do povo como um todo. O estado não pode mais ser visto como uma
“propriedade” particular do governante – como era no Absolutismo –, ele só se
legitima na medida em que incorpora a vontade do povo que o constitui.
O
indivíduo deixa de ver-se como um súdito do rei e passa a ser o cidadão de uma
terra unida, a pátria. É da união dessas duas idéias (o povo dotado de
soberania e unido em uma nação) que nasce o ideal nacionalista.
O
nacionalismo romântico emerge com força total na Alemanha, onde surge o
conceito de “alma do povo” (“volkgeist”), pelo qual cada povo é único e
criativo e expressa seu gênio na linguagem, na literatura, nos monumentos e
tradições populares.
Fique por dentro!!!
A
estética romântica assumiu uma feição anticlássica, proclamando a
liberdade individual do artista, eximindo-o da necessidade de imitação dos
clássicos greco-latinos.
O
sentimento nacionalista fez com que lendas populares de inspiração medieval
fossem recuperadas, para valorização do heroísmo e da nobreza de
caráter, permitindo a construção de uma identidade nacional que recuperasse
a "alma do povo".
A
livre expressão de sentimentos conferiu aos românticos a alcunha de sentimentalistasa
e individualistas, associando-os à manifestação de uma imaginação
intensa, permeada pela atividade noturna e sonhadora. Em decorrência disso, a fuga
da realidade era marcante nas obras literárias do período.
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