segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Literatura: arte que interpreta o mundo

"Admiro os poetas. O que eles dizem com duas palavras a gente tem que exprimir com mulhares de tijolos".
(João Batista Vilanova Artigas (1915-1985), arquiteto brasileiro)



A leitora, quadro de Renoir 

Para quê devo aprender isto? Qual é a utilidade desse conteúdo para a minha vida? Certamente indagações como essas estão impregnadas no bojo de adolescentes que estão iniciando a jornada no Ensino Médio. Recordo que eu próprio também me fazia tais questionamentos. Contudo, não encontrava quem respondesse às minhas inquietações de maneira satisfatória. Tive que aprender sozinho.
No que diz respeito à Literatura, descobri que ela é um segmento de arte, ou seja, é uma das formas de o homem se expressar com perfeição. Há quem diga que, por intermédio da obra literária, o autor pode conduzir o leitor à compreensão exata dos seus pensamentos, tal é o manejo do escritor com a linguagem.
E o que é a linguagem, se não aquilo que concebemos como real? O editor da revista Língua, Luiz Costa Pereira Junior, afirma que "a nossa relação com o mundo e as pessoas é determinada mais pelas versões dadas pela linguagem do que pelos acontecimentos reais". Isto é, a partir do que apreendemos por meio da linguagem é que forjamos nossa visão de mundo, e o real não é compreendido em sua totalidade, mas apenas interpretado de acordo com o que "vislumbramos".
O poeta moderno norte-americano Ezra Pound diz que "literatura é a linguagem carregada de significado. Grande literatura é simplesmente linguagem carregada de significado até o máximo grau possível".

Literatura x sociedade

Pois bem; a Literatura é um segmento artístico. Aristóteles já dizia que "a arte é uma mimese (imitação) da realidade". Ou, em outras palavras, é o retrato social de uma época.
Mas esse retrato não é, até por valer-se da linguagem da existir, idêntico à realidade. A literatura expressa uma supra-realidade, recriada a partir do seu olhar. Uma dada situação é "fotografada" pelos "olhos" do poeta.
Observe, por exemplo, como Carlos Drummond de Andrade "fotografou" o clima de medo que havia durante a Segunda Guerra Mundial:

Congresso internacional do medo

Provisoriamente não cantaremos o amor
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
.........................................................................
In:Reunião. 10.ed. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1980.  p.49



Texto Literário


A estética é uma das funções mais significativas do texto literário. Nele, o que se verifica não é sua semelhança com o real, mas a interpretação que dele se faz. William Blake sabia disso e afirmou: "A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê". Rubem Alves pontua esse conceito, nos introduzindo ao âmago da construção de obras literárias, quando diz que a percepção ocular é distinta nos seres. "Ver é muito complicado. (...) Sei disso por experiência própria. Quando vejo os ipês floridos, sinto-me como Moisés diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado. Mas uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de um ipê que florescia à frente de sua casa porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassoura. Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo", exemplifica o poeta em um artigo.
A plurissignificação é característica básica, que se relaciona com a estética. Ora, se um texto não foi escrito em sua função utilitária (preocupada em informar), abre-se a possibilidade de múltiplas interpretações e pode provocar os mais diversos sentimentos no leitor, em uma subjetividade que ratifica a definição de Pound, acima transcrita.
Outra característica intrínseca à Literatura é a documentação do imaginário, da ficcionalidade, ou seja, a simulação, o fingimento, a fantasia.

Gêneros Literários

Os gêneros literários designam a maneira pela qual os conteúdos literários se organizam em uma forma, por apresentarem estruturas semelhantes. A primeira divisão desses gêneros ocorreu na Grécia Antiga, feita por Aristóteles, que identificou três gêneros: lírico, dramático e épico.

Gênero lírico - é um certo tipo de texto no qual o eu lírico exprime suas emoções, idéias e impressões do mundo exterior. Normalmente é escrito em 1ª pessoa.

Gênero épico - há a presença de um narrador, que quase sempre conta uma história que envolve terceiros.

Gênero dramático - trata-se do texto escrito para ser encenado.


Historiografia Literária

Durante o Ensino Médio, além da habilidade interpretativa, o estudo literário baseia-se na comparação entre a produção e o contexto histórico, social e cultural no qual tal obra foi escrita.
Percebe-se, a partir desse estudo, que perdurará no mínimo até o final do 3º ano Médio, um movimento pendular da visão de mundo dos escritores. É a visão apolínea e a visão dionisíaca. A primeira enfatiza uma postura objetiva, racional em relação à vida. A segunda, trata de uma ótica mais subjetiva, emocional, idealista.

Estilos de época

Estilo de época é a denominação dada ao conjunto de traços e normas que orientam e caracterizam a produção artística de um determinado momento histórico.
A identificação de diferentes estilos de época orienta melhor o estudo das produções artísticas poiss a cada estilo de época corresponde uma escola literária, ou seja, um conjunto de características formais e de seleção de conteúdo evidente na obra de escritores e poetas que viveram em um mesmo momento.

domingo, 1 de novembro de 2015

Portugal: Literatura Medieval

Primeira Fase: Trovadorismo




Marco inicial: Canção da Ribeirinha ou da Guarvaia, de Paio Soares Taveirós (em 1189 ou 1198)

Poesia Trovadoresca

As obras de poesias trovadorescas eram chamadas de cantigas, por serem compostas atreladas à música. As cantigas se dividiam em dois grupos, a saber: líricas e satíricas. As líricas podiam ser de amor ou de amigo; as satíricas, de escárnio ou maldizer.

Cantiga de amor: o eu lírico (pessoa que fala no poema) é masculino e dirige-se à mulher amada, numa relação de vassalagem amorosa. O trovador trata a mulher de “senhora”. Essa mulher (normalmente casada) é sempre inalcançável, idealizada, fazendo com que o amor ao próprio amor, muitas vezes, seja maior do que o amor à mulher.

Cantiga de amigo: O eu lírico é feminino e dirige-se à natureza. No poema, a mulher normalmente queixa-se da falta do seu amado (que ela chama de amigo).

Cantiga de escárnio: sátira a uma pessoa ou aos hábitos culturais. Não há uma identificação precisa do “alvo” da poesia, mas um jogo de palavras, trocadilhos etc.

Cantiga de maldizer: sátira dirigida a uma pessoa identificada. Utiliza uma linguagem irônica e, por vezes, obscena.

Prosa
Nesse período, a prosa predominante era composta pelos livros de linhagem (nobiliários), cronologias (cronicões) e biografias dos santos (hagiografias). Havia, também, as novelas de cavalaria.

Segunda era: Humanismo
Marco inicial: 1434 - Nomeação de Fernão Lopes como cronista-mor do reino, durante a Dinastia de Avis.

Poesia Palaciana

Nesse período, a poesia se distancia da música. Por isso, ela passa por algumas inovações técnicas:

- Adoção de versos em redondilha (cinco ou sete sílabas poéticas);
- Uso da trova, do vilancete (poema composto por um mote de dois ou três versos, desenvolvidos em glosas) e da cantiga (poema composto por mote de quatro ou cinco versos e glosa de oito ou dez versos);

Prosa

Fernão Lopes escreveu três crônicas:

- Crônica de el-rei D. Pedro I: compilação e crítica dos principais acontecimentos do reinado desse monarca, conhecido como “Pedro, o Cru”;
- Crônica de el-rei D. Fernando: reconstituição do período que se inicia com o casamento de D. Fernando com Dona Leonor Teles e encerra-se com a revolução de Avis;
- Crônica de el-rei D. João: dividida em duas partes. A primeira, começa com a morte de D. Fernando, em 1383 e termina com a revolução que leva D. João I ao trono. Na segunda, descreve-se o reinado desse monarca, até 1411.

Teatro
Gil Vicente (1465?-1536) é considerado o iniciador do teatro português. Suas obras têm um caráter popular, diferenciando-se do teatro religioso produzido até então. Entre suas obras, destaca-se a Trilogia das Barcas (Auto da Barca do Inferno, Auto da Barca do Purgatório e Auto da Barca da Glória).

sábado, 31 de outubro de 2015

Quinhentismo

Contexto histórico
Esse termo é uma designação genérica das manifestações literárias produzidas no Brasil durante o século XVI. Nesse período, não se pode tratar de uma literatura do Brasil, mas sim, de uma literatura no Brasil - uma manifestação ligada ao Brasil, mas que denotas as intenções européias.

Marco inicial
1500 - A composição da carta de Pero Vaz de Caminha, escrivão da esquadra de Cabral, ao rei de Portugal, D. Manuel, relatando as características das terras descobertas.
Este documento, publicado em 1817, é considerado uma espécie de “certidão de nascimento” do Brasil.

Características

A produção literária do período se divide em dois tipos de literatura:

ü Literatura informativa (ou de viagens) - composta por documentos a respeito das condições gerais da terra conquistada, as prováveis riquezas, a paisagem física e humana etc. No princípio, a visão européia é idílica. Porém, na segunda metade do século XVI, à medida que os índios iniciam a guerra contra os invasores, a visão se transforma e os habitantes da terra são pintados como seres bárbaros e primitivos.

ü Literatura catequética - constituída pelos textos (poemas, peças de teatro) escritos pelos missionários para a catequização dos índios.

Autores e obras

ü Pero de Magalhães Gândavo, com Tratado da Terra do Brasil (escrito, provavelmente em 1570, mas publicado em 1826) e História da Província de Santa Cruz a que Vulgarmente Chamamos Brasil (1576);
ü Padre Fernão Cardim, com Narrativa epistolar (1583) e Tratados da terra e da gente do Brasil;
ü Gabriel Soares de Sousa escreveu Tratado descritivo do Brasil (1587);
ü Diálogo sobre a conversão dos gentios (1557), do Pe. Manoel da Nóbrega;
ü História do Brasil (1627), de Frei Vicente do Salvador;
ü Duas Viagens ao Brasil, publicada em alemão por Hans Staden em 1557;
ü Viagem à Terra do Brasil, escrito pelo francês Jean de Léry no ano de 1578.

A obra literária de Anchieta

José de Anchieta (1534-1597) ingressou na Companhia de Jesus com 17 anos. Em 1553, veio para o Brasil e aqui ficou até morrer. Desempenhou um papel destacado na fundação de São Paulo e na catequese indígena. Além de homem de ação, foi também escritor religioso, tendo produzido poesias líricas, épicas, teatro (autos), além de cartas, sermões e uma gramática da língua tupi.

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Classicismo (1527-1580)

O Classicismo foi conseqüência do Renascimento, importante movimento de renovação científica e cultural ocorrido na Europa que marca o nascimento da Idade Moderna.
A base do Renascimento encontra-se no crescimento gradativo da burguesia comercial e das atividades econômicas entre as cidades européias, o que acabou estimulando a vida urbana e as manifestações artísticas, que passaram a ser patrocinadas por ricos comerciantes (mecenato). O aperfeiçoamento da imprensa possibilitou uma maior difusão de idéias novas, contribuindo para o enriquecimento do ambiente cultural. As grandes navegações alargaram a visão de mundo do europeu, que entrou em contato com culturas diferentes. A matemática se desenvolveu, bem como o estudo das línguas, surgindo as primeiras gramáticas de língua portuguesa.
Todo esse contexto fez nascer uma visão antropocêntrica de mundo. Ou seja, o homem é visto como centro do universo. O cristianismo continua imperando, mas o homem renascentista já não é tão angustiado com as questões religiosas como o era o homem medieval.
Dois movimentos religiosos que marcaram o século XVI tiveram grande repercussão social e cultural: a Reforma Protestante, liderada por Martinho Lutero (1483-1546); e a Contra-Reforma, movimento de reação da Igreja Romana
Os artistas – pintores, escultores, arquitetos – inspiravam-se nas obras dos antigos gregos e romanos, que se transformaram em modelos. Por isso mesmo, dizia-se que a gloriosa arte antiga estava renascendo.

Classicismo em Portugal

O marco inicial do Classicismo português é em 1527, quando se dá o retorno do escritor Sá de Miranda de uma viagem feita à Itália, de onde trouxe as idéias de renovação literária e as novas formas de composição poética, como o soneto. O período encerra em 1580, ano da morte de Luís Vaz de Camões e do domínio espanhol sobre Portugal.

Classicismo Literário

Os escritores classicistas retomaram a idéia de que a arte deve fundamentar-se na razão, que controla a expressão das emoções. Por isso, buscavam o equilíbrio entre os sentimentos e a razão, procurando assim alcançar uma representação universal da realidade, desprezando o que fosse puramente ocasional ou particular.
Os versos deixam de ser escritos em redondilhas (cinco ou sete sílabas poéticas) – que passa a ser chamada medida velha – e passam a ser escritos em decassílabos (dez sílabas poéticas) – que recebeu a denominação de medida nova. Introduz-se o soneto, 14 versos decassilábicos distribuídos em dois quartetos e dois tercetos.

Luís de Camões (1525?-1580): poeta soldado
Escritor de dados biográficos muito obscuros, Camões é o maior autor do período. Sabe-se que, em 1547, embarcou como soldado para a África, onde, em combate, perdeu o olho direito. Em 1553, voltou a embarcar, dessa vez para as Índias, onde participou de várias expedições militares.
Em 1572, Camões publica Os Lusíadas, poema que celebrava os recentes feitos marítimos e guerreiros de Portugal. A obra fez tanto sucesso que o escritor recebeu do rei D. Sebastião uma pensão anual – que mesmo assim não o livrou da extrema pobreza que vivia. Camões morreu no dia 10 de junho de 1580.

A Poesia Épica de Camões

Como tema para o seu poema épico, Luís de Camões escolheu a história de Portugal, intenção explicitada no título do poema: Os lusíadas. O cerne da ação desenvolve-se em torno da viagem de Vasco da Gama às Índias.

A palavra “lusíada” é um neologismo inventado por André de Resende para designar os portugueses como descendentes de Luso (filho ou companheiro do deus Baco).

A Estrutura

Os lusíadas apresenta 1102 estrofes, todas em oitava-rima (esquema ABABABCC), organizadas em dez cantos.

Divisão dos Cantos

1ª parte: Introdução
Estende-se pelas 18 estrofes do Canto I e subdivide-se em:

Ø Proposição: é a apresentação do poema, com a identificação do tema e do herói (constituem as três primeiras estrofes do canto I).
Ø Invocação: o poeta invoca as Tágides, ninfas do rio Tejo, pedindo a elas inspiração para fazer o poema.
Ø Dedicatória: o poeta dedica o poema a D. Sebastião, rei de Portugal.

2ª parte: Narração
Na narração (da estrofe 19 do Canto I até a estrofe 144 do Canto X), o poeta relata a viagem propriamente dita dos portugueses ao Oriente.

3ª parte: Epílogo
É a conclusão do poema (estrofes 145 a 156 do Canto X), em que o poeta pede às musas que o inspiraram que calem a voz de sua lira, pois está desiludido com uma pátria que já não merece as glórias do seu canto.




A Lírica Camoniana

Camões escreveu versos tanto na medida velha quanto na medida nova. Seus poemas heptassílabos geralmente são compostos por um mote e uma ou mais estrofes que constituíam glosas (ou voltas a ele).
Os sonetos, porém, são a parte mais conhecida da lírica camoniana. Com estrutura tipicamente silogística, normalmente apresentam duas premissas e uma conclusão, que costuma ser revelada no último terceto, fechando, assim, o raciocínio.
Camões demonstra, em seus sonetos, uma luta constante entre o amor material, manifestação da carnalidade e do desejo, e o amor idealizado, puro, espiritualizado, capaz de conduzir o homem à realização plena. Nessa perspectiva, o poeta concilia o amor como idéia e o amor como forma, tendo a mulher como exemplo de perfeição, ansiando pelo amor em sua integridade e universalidade.

Outros Autores

Ø Francisco de Sá de Miranda (1481-1558). Escreveu poemas na medida nova e na medida velha. Escreveu, ainda, a tragédia Cleópatra, as comédias Os Estrangeiros e Vilhalpandos.
Ø Antônio Ferreira (1528-1569). Discípulo de Sá de Miranda, escreveu Poemas Lusitanos, Castro, Bristo e Cioso.João de Barros (1496?-1570), autor de As décadas da Ásia.

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Seiscentismo ou Barroco

                                           

O Barrroco foi uma escola literária desenvolvida no século XVII. Nesse período, o terror provocado pela “Santa Inquisição” (imagem) tentava limitar pensamentos e manifestações culturais e impor a austeridade.
Ora, convém compreender que, durante o Renascimento (movimento intelectual que, no século XV, incentivou a recuperação dos valores e modelos da Antigüidade greco-romana), o ser humano cresceu em vários aspectos. Um desses aspectos foi pessoal, libertando-se da ameaçadora fé medieval.
A principal marca dessa libertação foi a Reforma Protestante, liderada pelo monge alemão Martinho Lutero, que rompeu com a Igreja Católica ao afirmar a retidão e a santidade de todos aqueles que cressem verdadeiramente. A Reforma Protestante atingiu diretamente a Igreja, que defendia a redenção da alma humana tão-somente pelo cumprimento dos preceitos católicos e pagamento de indulgências.
A Companhia de Jesus, fundada por Inácio de Loyola durante o Concílio de Trento, liderou a defesa e difusão do Catolicismo, como forma de combate ao Protestantismo.
As escolas e universidades jesuítas criaram um estilo próprio de arte e arquitetura: ricamente ornamentadas por querubins e virgens celestiais, parecem tentar comover o coração da mesma forma que o pregador buscava seduzir o intelecto. Nascia assim, intimamente ligada ao espírito da Contra-Reforma, a estética do rebuscamento, da filigrana, da ornamentação rica e excessiva, que será, mais tarde, denominada de Barroco.

Movimento literário

Como movimento cultural e artístico, o Barroco se estende do final de século XVI até o início do século XVIII. Tem origem na Itália, alcança vários países europeus e algumas de suas colônias, como o Brasil.
Em virtude da oposição existente entre traços culturais do homem barroco, suas manifestações artísticas e literárias são assinaladas pelas seguintes características:

a)      Contraste: contraposição de temas, de assuntos, de motivos e de elementos expressivos, tais como a oposição entre a vida terrena e a vida eterna, espiritualidade e materialidade, etc.
b)      Verbalismo: uso exagerado de imagens, de figuras de sintaxe, de metáforas difíceis, floreios literários, tais como: “tronos do pudor” para dizer “faces”; “conselheiro das graças” para significar “espelho”; “mobílias da boca”, em vez de “dentadura”; “memória do dedo”, em vez de “anel” e assim por diante.
c)      Religiosidade: repetida freqüência de assuntos envolvendo toda uma problemática religiosa de época.
d)     Sensualismo: contraposição à característica anterior; ênfase dada aos aspectos táteis, visuais, sensitivos, tanto em relação à natureza como ao corpo humano.
e)      Pessimismo: nascido da oposição frontal feita entre o corpo e a alma, entre o eu e o mundo.

Cultismo e conceptismo

Diante da realidade, o homem barroco tinha duas perguntas: como é? o que é?
Da resposta à primeira pergunta surgiu a corrente cultista, que procurava esgotar descritivamente o ser em seu aspecto quer sensorial (cor, brilho, perfume, peso, forma) quer afetivo (gosto, dá prazer, dá pesar, etc.), utilizando para isso de inúmeras antíteses, metáforas, jogos de palavras. Muitas vezes o resultado era um malabarismo formal com pouco conteúdo. Tal corrente é chamada também de gongorismo, que teve no poeta espanhol Luís de Gôngora seu maior cultor. Contra o cultismo e, respondendo à segunda pergunta, surgiu o conceptismo, que era uma atitude de análise do ser, para a qual se empregavam os artifícios da lógica, como os silogismos, os dilemas etc. o cultismo foi predominante na poesia. O conceptismo, na prosa e teve como iniciador o poeta Quevedo, espanhol.

Barroco em Portugal e no Brasil

Para fins didáticos, o Barroco português vai de 1580 a 1756.
O ano de 1580 é significativo em dois aspectos: assinala a morte de Camões, o maior nome do Classicismo português, e marca o fim da autonomia política de Portugal, pois, com a morte de D. Sebastião, em 1578, o rei Filipe II, da Espanha, ganha o direito de subir ao trono português. Portugal passa a fazer parte do reino espanhol.
O padre Antônio Vieira é o principal autor do Barroco em Portugal, mas também se insere na literatura brasileira porque passou a maior parte de sua vida no Brasil.
Nos séculos XVII e XVIII, ainda não havia no Brasil condições para o desenvolvimento de uma atividade literária propriamente dita. Nosso imenso território era, na maior parte, despovoado. A vida social brasileira girava em torno de alguns pequenos núcleos urbanos e a vida cultural praticamente não existia. Só no século XIX começou a formar-se um público leitor que possibilitou a continuidade da produção literária.
Em vista dessa precariedade cultural da sociedade brasileira, seria exagero falar em movimento barroco no Brasil. O que temos, na verdade, são alguns escritores que, bebendo em fontes estrangeiras (geralmente autores portugueses e espanhóis), produzem aqui textos com características barrocas. Desses autores merecem destaque Gregório de Matos, por suas poesias e o padre Antônio Vieira, por seus sermões. Além deles, temos Bento Teixeira (1561?-1600), autor do poema “Prosopopéia”, de 1601, que costuma ser considerado o marco inicial do Barroco brasileiro, e Manuel Botelho de Oliveira (1636-1711), autor do livro “Música do Parnaso”.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Introdução ao Romantismo



“Epa, epa!” Calma! Quando falamos em “Romantismo”, nos vem logo à cabeça a ideia de que estamos falando sobre um tipo de personalidade. Considera-se “romântica” a pessoa cujo caráter apresenta um conjunto de valores, como o gostar de dar e receber flores, de apreciar a leitura e declamação de poemas que abordem a temática amorosa, de emocionar-se com facilidade e tratar a pessoa amada com carinho e excesso de desvelo e delicadeza. É comum ver esse tipo de pessoa isolado dos demais, fazendo uma viagem interior tendo como fundo musical canções chamadas românticas arquivadas em seu MP4…
Entretanto, não é esse o tipo de Romantismo que estudaremos em Literatura. Na nossa disciplina, chamamos de “Romantismo” um amplo movimento que surgiu no século XIX e representou artisticamente os anseios da burguesia.


I.       Contexto histórico

O Romantismo, como escola literária, predominou na Europa na primeira metade do século XIX. Entretanto, o seu surgimento aconteceu no período imediatamente posterior à Revolução Francesa.
Lembremo-nos que a postura racional associada ao Iluminismo durante a maior parte do século XVIII permeou a Literatura nos textos arcádicos, que traduziam uma visão mais otimista da vida, com pastores e pastoras celebrando o amor em um cenário bucólico (campestre). Essas características serão fortemente desafiadas pela nova orientação cultural predominante no século XIX, associada ao Romantismo, que valoriza a livre expressão das emoções humanas.
Após a Revolução Francesa, o absolutismo europeu chegou ao final, incentivando o individualismo econômico e o nacionalismo. Essa conjuntura impeliu os artistas a voltarem os seus olhos para a burguesia, que surgia como alguém com cabedal financeiro, mas não intelectual. Portanto, era necessária uma transformação cultural equivalente à transformação política, oriunda da parte dos burgueses.
Em 1793, Luís XVI foi executado por haver conspirado contra a Revolução Francesa, considerada a primeira tentativa de colocar em prática os ideais iluministas.


II.      Características Literárias

As autoras Abaurre, Pantara e Fadel (2003:46) apresentam uma caracterização completa acerca dos porquês da exaltação da imaginação e dos sentimentos, presentes nesse movimento. “O burguês apresentava, aos olhos da aristocracia européia, um defeito grave e insuperável: não tinha linhagem, não tinha tradição, não tinha estirpe. Em outras palavras, não era nobre, não tinha ‘sangue azul’. Para compensar a falta de ancestrais nobres, de uma linhagem que pudesse ser artisticamente exaltada, era necessária a criação de um novo parâmetro de beleza, que substituísse aquele em voga na época, no qual os burgueses pudessem também se reconhecer.
A diferença entre o indivíduo e a sociedade em que vive será de extrema importância para os românticos. Deslocados socialmente, dotados de uma extrema sensibilidade e de uma alma pura, só restará aos novos artistas uma saída: a fuga do presente para um passado idealizado ou um futuro utópico”.
Durante o século XVII, o resgate da perspectiva e da harmonia clássicas marcou o trabalho dos pintores e produziu obras em que a precisão do detalhe contribuía para criar, no observador, a sensação de objetividade.
A estética romântica promove uma imprecisão de contornos e gera um senso de indefinição que provoca no observador uma sensação de maior subjetividade.

O grande canal visto de São Vito, de Canaletto, 1734

Veneza, de William Turner, 1843


A fuga do presente e da realidade

Os ideais da Revolução Francesa, baseados no trinômio “liberdade, igualdade e fraternidade”, não foram percebidos pelos jovens europeus de algumas décadas posteriores à revolução. Como consequência, enquanto alguns ainda confiavam nos destinos da revolução burguesa, outros caíram em um forte pessimismo, adotando uma postura de fuga da realidade. Foge-se para qualquer lugar: o passado (a Idade Média ou a infância), o futuro, a natureza, o sonho, a loucura, o “eu”, a vida boêmia, a morte.

Filhos de uma nação

O nacionalismo, uma das mais discutidas características do Romantismo, é uma consciência partilhada por um grupo de indivíduos que se sente ligado a uma terra e que possui uma cultura e uma história comuns, marcadas por eventos vividos em conjunto.
A Revolução Francesa trouxe o sentimento nacionalista para a Europa do século XIX. A transformação política decorrente do processo revolucionário estabeleceu o princípio de que a soberania não tem existência em si mesma: ela deriva da nação, do povo como um todo. O estado não pode mais ser visto como uma “propriedade” particular do governante – como era no Absolutismo –, ele só se legitima na medida em que incorpora a vontade do povo que o constitui.
O indivíduo deixa de ver-se como um súdito do rei e passa a ser o cidadão de uma terra unida, a pátria. É da união dessas duas idéias (o povo dotado de soberania e unido em uma nação) que nasce o ideal nacionalista.
O nacionalismo romântico emerge com força total na Alemanha, onde surge o conceito de “alma do povo” (“volkgeist”), pelo qual cada povo é único e criativo e expressa seu gênio na linguagem, na literatura, nos monumentos e tradições populares.

Fique por dentro!!!
A estética romântica assumiu uma feição anticlássica, proclamando a liberdade individual do artista, eximindo-o da necessidade de imitação dos clássicos greco-latinos.
O sentimento nacionalista fez com que lendas populares de inspiração medieval fossem recuperadas, para valorização do heroísmo e da nobreza de caráter, permitindo a construção de uma identidade nacional que recuperasse a "alma do povo".

A livre expressão de sentimentos conferiu aos românticos a alcunha de sentimentalistasa e individualistas, associando-os à manifestação de uma imaginação intensa, permeada pela atividade noturna e sonhadora. Em decorrência disso, a fuga da realidade era marcante nas obras literárias do período.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Prosa Romântica no Brasil

A prosa literária brasileira começa de fato no Romantismo, com os folhetins, que são histórias publicadas em capítulos nos jornais. Quando uma dessas histórias fazia sucesso, era lançada em forma de livro. Assim nasceram quase todos os romances importantes do século XIX no Brasil.

Tendências do romance romântico

De acordo com o tema principal que desenvolvem, os romances românticos podem ser classificados em:

·  Romance urbano – desenvolve temas relacionados à vida na cidade.
·  Romance sertanejo ou regionalista – aborda temas e situações que se passam longe dos centros urbanos. Focaliza a gente do interior, com seus costumes e valores peculiares.
·  Romance histórico – volta-se para o passado, numa reinterpretação nacionalista de fatos e personagens da nossa história.
·  Romance indianista – enfoca a figura do índio, idealizando-o.


Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882)

Extraindo da vida social da época personagens e situações, Joaquim Manuel de Macedo transpunha para o romance os tipos humanos que circulavam pelas casas e festas burguesas do Rio de Janeiro: o estudante conquistador, a moça namoradeira, o velhote metido a galã. As paisagens eram as praias desertas e convidativas ou as matas da Tijuca, por exemplo.
Além da estruturação do enredo – arte de prender a atenção do leitor, que Macedo rapidamente dominou -, a linguagem simples e coloquial é outro aspecto que aproxima ainda mais o autor de seu público. Suas personagens falam dos mesmos assuntos que as pessoas de seu tempo, usando a mesma linguagem.
Suas principais obras foram A moreninha, considerado por muitos estudiosos o primeiro trabalho romântico brasileiro digno de nota e O moço loiro.



Bernardo de Guimarães (1825-1884)

Quando esquentavam os debates sobre a questão abolicionista, Bernardo de Guimarães escreveu o romance A escrava Isaura, uma obra que apresenta todos os elementos tipicamente românticos e, apesar do título, não chega a enfrentar o problema da escravidão. É um caso de amor que move o romance, e não o problema social e humano da escravidão.



Taunay (1843-1899)

O interior do Brasil, com seus tipos humanos característicos e suas rígidas normas de comportamento social e familiar, constituiu uma fonte de grande interesse para os escritores românticos, que, na verdade, abriram o filão do romance sertanejo para a nossa literatura. A obra Inocência, de Alfredo d’Escragnolle Taunay, é considerada o melhor romance sertanejo do Romantismo.
Taunay deixou uma obra extensa, composta de romances, contos, peças de teatro, memórias etc. seus principais livros são: Inocência (1872) e A Retirada da Laguna (1874, diário de guerra).
O romance Inocência transcorre no ambiente rústico do interior do Mato Grosso. A jovem Inocência apaixona-se por Cirino, curandeiro ambulante que passava por médico e fora levado a sua casa pelo pai, Pereira, um mineiro rude, para tratar da saúde dela. Cirino é o primeiro homem a despertar-lhe realmente as emoções do amor, criando nela uma grande perturbação íntima, pois estava prometida ao rude vaqueiro Manecão.
Além de Cirino, encontra-se na casa de Pereira um naturalista alemão, Meyer, que estava no Brasil à procura de novas espécies de borboletas. Desconhecendo os preconceitos que marcavam a vida familiar sertaneja, Meyer não esconde sua admiração pela beleza de Inocência. Isso preocupa Pereira, que passa a vigiá-lo constantemente, dando oportunidade a Cirino de comunicar-se mais facilmente com a moça.
Com a partida de Meyer, as coisas se complicam, aumentando o medo de Inocência, que teme uma reação violenta do pai caso venha a saber do romance. A jovem instrui Cirino a procurar seu padrinho para que ele convença Pereira a concordar com o rompimento do compromisso com Manecão. Na ausência de Cirino, porém, o idílio é descoberto por Tico, um anão que espreitava continuamente Inocência. Manecão persegue Cirino e o mata. Algum tempo depois, morre Inocência.


José de Alencar (182-1877)

A obra do mais importante prosador do Romantismo pode ser assim esquematizada:
·  Romance social ou urbano à Cinco Minutos, A Viuvinha, Lucíola, Diva, A Pata da Gazela, Sonhos d’Ouro, Senhora, Encarnação.
·  Romance regionalista à O gaúcho, O tronco do ipê, Til, O sertanejo.
·  Romance histórico à O Guarani, As minas de Prata, A Guerra dos Mascates.
·  Romance indianista à Iracema, Ubirajara.
Nos romances sociais, Alencar revela seu talento de observador da alma humana, fazendo o estudo de certas figuras femininas. A esses estudos ele deu o nome de “perfis femininos”, dentre os quais se destacam o de Aurélia (em Senhora) e de Lúcia (em Lucíola). Alguns anos depois, Machado de Assis aprofundaria essa linha de análise psicológica do romance brasileiro.
Alencar destaca-se por ter defendido um estilo “brasileiro” na língua literária. Reivindicando o direito dos brasileiros a uma língua e literatura com fisionomia própria (porque isso era uma inevitável conseqüência do nosso desenvolvimento como nação independente), Alencar protestou contra os puristas, que achavam que nossos escritores deveriam escrever tal como se fazia em Portugal: “É essa submissão que eu não tolero; e, como já disse uma vez, quebraria a pena antes, do que aceitar semelhante expatriação literária. Admiremos Portugal nas tradições grandiosas de seu passado; nos esforços generosos de seu renascimento; prezemos sua literatura e seus costumes; porém, nunca imita-lo servilmente. Importaria anular nossa individualidade”.


Manuel Antônio de Almeida (1831-1861)

Em 1852, os capítulos semanais do folhetim Memórias de um sargento de milícias, publicado pelo Correio Mercantil, do Rio de Janeiro, começam a fazer sucesso entre os leitores cariocas. Ninguém sabia quem era o autor, pois ele se escondia atrás do pseudônimo “Um brasileiro”. Mas com certeza era alguém que conhecia muito bem os becos, as praças, as tradições e os tipos humanos da cidade do Rio de Janeiro, onde transcorria a história. Publicado mais tarde em livro, esse folhetim do carioca Manuel Antônio de Almeida passou a ocupar um lugar especial na história do nosso Romantismo.
Memórias de um sargento de milícias mostra a vida da gente do povo, que vive nas casinhas simples do Rio de Janeiro “do tempo do rei” (D. João VI). A figura central, que garante a unidade das várias ações que se sucedem num ritmo bastante dinâmico, é Leonardo, filho enjeitado de Leonardo Pataca e Maria da Hortaliça e que foi criado pelos padrinhos: a parteira (a comadre) e um barbeiro (o compadre).


O romance conta as peripécias de Leonardo, seus casos com a mulata Vidinha, o namoro sério com Luisinha (com quem acaba casando-se no final) e seus planos para conseguir escapar da vigilância do severo major Vidigal, sempre de olho nele.

domingo, 25 de outubro de 2015

Realismo em Portugal

>> postagem provisória <<




sábado, 24 de outubro de 2015

Realismo/Naturalismo no Brasil


Contexto histórico



A segunda metade do século XIX foi um momento de profundas transformações na fisionomia do ambiente sociocultural europeu. Este cenário consolida uma nova cosmovisão, que se contrapõe ao sentimentalismo predominante nas artes durante o século anterior. É bem verdade que Castro Alves, na poesia, e Manuel Antônio de Almeida, na prosa, prenunciam um pouco dessas transformações literárias.



Com referências em novas concepções científicas, a Literatura apresenta mudanças. Teorias como o Socialismo, de Marx, o Determinismo, de Taine, o Positivismo, de Comte, e o Evolucionismo, de Darwin, imiscuem-se nos textos literários.



Características Literárias
>> objetividade
>> racionalismo
>> análise descritiva dos problemas da vida
>> retrato psicológico das personagens
>> linguagem equilibrada
>> detalhismo







Marco inicial
No Brasil, o marco inicial do Realismo é o ano de 1881, quando ocorre a publicação de 'Memórias Póstumas de Brás Cubas', romance de Machado de Assis (1839-1908). O público leitor da época, acostumado ao modelo romântico, ficou impressionado com a irônica narrativa póstuma de uma personagem da burguesia brasileira repleta de ironias finas e humor velado, denunciando a hipocrisia da época. Mais do que isso, Machado adentra nos porões da existência humana, abordando assuntos intrínsecos a todos os homens.

'Memórias Póstumas' ganhou uma adaptação cinematográfica
no ano 2000, dirigida por André Klotzel






Naturalismo
Tendência do Realismo, o Naturalismo propõe uma descrição objetiva dos fatos sociais, enxergando o ser humano como um produto biológico. Nessa ótica, o comportamento humano é compreendido como o resultado da pressão social e da hereditariedade. Em outras palavras, os instintos – despertados pelas condições sociais – impulsionam as pessoas.



Marco inicial
Semelhantemente ao Realismo, o Naturalismo teve seu marco inicial no ano de 1881, quando da publicação da obra 'O Mulato', de Aluísio Azevedo (foto). Na época, a obra chegou a ter uma repercussão superior ao livro machadiano 'Memórias Póstumas de Brás Cubas'. Vale salientar que no Brasil o público já estava, de certa forma, familiarizado com a estética naturalista, até mesmo por causa da publicação de 'O primo Basílio' (1878), do português Eça de Queirós, que teve grande repercussão em solo tupiniquim. 


Características Literárias
>> objetividade
>> forte influência do darwinismo
>> a realidade é apresentada de forma científica
>> romance de tese
>> linguagem coloquial
>> detalhismo
>> aspecto sexual



Principais autores
Machado de Assis, Aluísio Azevedo, Raul Pompeia, Rui Barbosa, Adolfo Caminha, Domingos Olímpio, Manuel de Oliveira Paiva e Inglês de Sousa.



Machado de Assis, o Crítico Implacável

O Rio de Janeiro em 1889

Joaquim Maria Machado de Assis nasceu no dia 21 de junho de 1839, no Rio de Janeiro. Na época, a cidade contava com cerca de 300 mil habitantes. Filho de um pintor mulato e de uma lavadeira portuguesa, Machado não realizou seus estudos regulares. Além das condições sociais, ele precisou enfrentar adversidades de ordem fisiológica, tendo em vista que era mulato, gago e epilético. Começou a trabalhar muito cedo, inclusive, com cerca de 15 anos de idade foi funcionário em uma tipografia dirigida por ninguém menos do que o escritor Manuel Antônio de Almeida – autor de 'Memórias de um sargento de milícias' –, o qual também foi advindo de origem humilde.

Machado de Assis e Carolina Xavier: união por toda a vida
Em 1869, casou-se com Carolina Xavier de Novais, com quem passou a vida inteira. Inclusive, ela foi uma grande incentivadora de seus trabalhos literários.

Sem dúvida alguma, Machado de Assis é um dos maiores autores da língua portuguesa. Sua obra divide-se em duas fases. A primeira, preparatória, é composta por romances românticos. A segunda, da maturidade, é formada pelos romances realistas que lhe deram notoriedade. Crítico implacável do ser humano, é possível afirmar que da pena machadiana surgiram as melhores ironias da literatura brasileira.

Entre suas obras, destacam-se 'Memórias Póstumas de Brás Cubas' (1881), que deu início ao Realismo brasileiro, e 'Dom Casmurro' (1899). Esta é a narrativa do ciúme de Bentinho por Capitolina (Capitu), “aquela dos olhos de cigana oblíqua e dissimulada”. Pela forma da escrita, o autor deixa em dúvida se ela realmente o traiu. O que chama a atenção é que a crítica brasileira durante muito tempo se empenhou em “defender” a posição de Bento. Apenas nos anos 60, com a crítica norte-americana de Helen Caldwell, publicada no livro 'O Otelo brasileiro de Machado de Assis', surgiu uma proposta de “defesa” de Capitu.

Além de romances, Machado de Assis escreveu outros estilos literários, a exemplo de contos, crônicas, poesias. Foi presidente da Academia Brasileira de Letras, entidade da qual também foi cofundador, em 1897. Morreu em 29 de setembro de 1908, no Rio de Janeiro.

Reconhecido em diversos países do mundo, no Brasil ele é estimado tanto pela crítica quanto pelo público em geral. Conhecido pela alcunha 'Bruxo do Cosme Velho', devido a um poema escrito por Carlos Drummond de Andrade dedicado a ele, Machado de Assis chegou a ser tema de samba-enredo de escola de samba. No ano 2009, a Mocidade Independente de Padre Miguel (RJ) homenageou o autor carioca, em uma apresentação que também fazia alusão a Guimarães Rosa.

Obras:


Romance: Ressurreição (1872); A Mão e a Luva (1874); Helena (1876); Iaiá Garcia (1878); Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881); Quincas Borba (1891); Dom Casmurro (1899); Esaú e Jacó (1904); Memorial de Aires (1908).



Conto: Contos Fluminenses (1870); Histórias da Meia-Noite (1873); Papéis Avulsos (1882); Histórias sem Data (1884); Várias Histórias (1896); Páginas Recolhidas (1899); Relíquias de Casa Velha (1906).



Crônica: A Semana (1914)



Poesia: Crisálidas (1864); Falenas (1870); Americanas (1875); Ocidentais (1901); Poesias Completas (1901).



Teatro: Desencantos (1861); Queda que as Mulheres Têm pelos Tolos (1861); O Caminho da Porta (1863); O Protocolo (1863); Quase Ministro (1864); Uma Ode a Anacreonte (1870).




Crítica: Crítica (1910).

Aluísio Azevedo, escritor tipicamente naturalista

 Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo nasceu em São Luís-MA, no ano de 1857. Principalmente, trabalhou no Rio de Janeiro, como escritor. Foi um dos poucos escritores que se manteve financeiramente apenas da sua obra, escrevendo sob demanda durante vários anos. Talvez por isso, sua produção, apesar de numerosa, é irregular do ponto de vista do valor literário.


Aluísio Azevedo é considerado pela crítica como o escritor tipicamente mais naturalista da literatura brasileira. Os romances O mulato (1881), Casa de Pensão (1884) e O cortiço (1890) são destaques em sua produção.


Chama a atenção a presença de ideias científicas da época em sua produção. Isso revela influências de autores como o francês Émile Zola – considerado criador do naturalismo – e o português Eça de Queirós. Sobretudo devido à influência de Queirós, percebe-se um estilo fluente e espontâneo, completamente desvencilhado dos arquétipos românticos.


Ao longo de sua produção, é possível afirmar que os problemas sociais e morais da sociedade da sua época são colocados em xeque. Preconceito de cor, de classe e ganância são algumas das questões expostas em seus textos.


Em 1895, abandonou as letras e ingressou na carreira diplomática, exercendo o cargo de agente consular em Buenos Argentina, onde faleceu, em 1913.


Escreveu tanto obras românticas quanto naturalistas:


Românticas: Uma Lágrima de Mulher (1880); Memórias de um Condenado (1882); Filomena Borges (1884); O Esqueleto (1890); A Mortalha de Alzira (1894) e muitas outras.


Naturalistas: O Mulato (1881); Casa de Orates (1882); Casa de Pensão (1884); O Coruja (1885); O Homem (1857); O Cortiço (1890); O Livro de uma Sogra (1895).



Além disso, escreveu teatro, contos e crônicas.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Parnasianismo

>> em construção <<

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Simbolismo

>> em construção <<

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Vanguardas Europeias

Para poder entender o que foram os movimentos de vanguardas artísticas ocorridos na Europa no início do século XX é necessário compreender o contexto histórico ao qual estamos nos referindo. Naquela época, a Europa – então com 400 milhões de habitantes – se tornou o centro econômico, filosófico e artístico-cultural do mundo.
No entanto, politicamente, havia uma intensa turbulência naquele continente. Com a industrialização, a economia agrícola entrou em colapso, em alguns países, provocando uma série de complicações na estrutura social. O aumento da concorrência entre os países, devido à industrialização, provocou um momento de muita tensão. Com o assassinato de arquiduque Francisco Ferdinando (1), herdeiro do Império Austro-Húngaro, que aconteceu no dia 28 de junho de 1914, em Sarajevo, houve a culminância da Primeira Guerra Mundial, que durou de 1914 a 1918. Também nesse período, as levas de imigrantes europeus chegaram às Américas, possibilitando trocas de culturas. A mão de obra imigrante reproduzia substituía a escravidão, que mudou de roupagem chegou ao fim.
Nesse clima social, as ciências apresentaram um enorme progresso. A eletricidade, o telégrafo sem fio, o rádio, o cinema, o automóvel, o avião. Tudo isso começou a fazer parte da vida das pessoas nesse contexto, provocando profundas transformações no jeito de viver. Diante disso, a arte também passa por transformações. Não se concebe mais o conceito aristotélico de arte como mimesis (imitação) da realidade, tampouco a angústia subjetiva do romantismo expressa esse novo momento. O momento é caótico. A arte também.
Vale lembrar que poetas como Edgar Allan Poe, Charles Baudelaire, Walt Whitman e Stéphane Mallarmé, entre outros, já produziam obras de conteúdos e formas revolucionários.
A inquietação intelectual ganhou corpo por meio dos movimentos artísticos denominados vanguardas, palavra que indica a parcela dos intelectuais que exerce um papel pioneiro, desenvolvendo técnicas, ideias e conceitos novos.

Cubismo
Essa palavra – Cubismo – aparece na pintura no ano de 1908, quando Matisse critica um quadro de Braque, no Salon des Indépendants. Por meio desse movimento, a pintura recria elementos da realidade por intermédio de formas geométricas. Em outras palavras, a pintura perde o descritivismo para apresentar relações e não formas acabadas.
Na pintura (e há quem diga que o que esses artistas faziam eram ‘pinturas’, mesmo hehehe), destacam-se Pablo Picasso, Juan Gris, Goerges Braque e Fernand Léger, entre outros.


Futurismo
A Europa foi surpreendida pelo Futurismo em 1909. Esse é o mais personalista dos movimentos, idealizado pelo Filippo Tomaso Marinetti (1876-1944), o qual era um egípcio de ascendência italiana e educação francesa. Sua proposta, fundamentalmente, é rejeitar o passado, o academicismo e destruir as tradições. Ele preconizava o verso livre, as “palavras em liberdade”, a “destruição da sintaxe”, a “imaginação sem fios”, enquanto enaltecia a velocidade e a tecnologia. No total, Marinetti publicou 30 manifestos sobre o Futurismo, mas em todos propunha o mesmo fascínio pela guerra aos museus e bibliotecas, repudiando o passado. A partir de 1919, passou a aderir aos ideais fascistas.

De acordo com o próprio Benito Mussolini, “o fascismo é uma concepção histórica em que o home é o que é na medida em que trabalha com o processo espiritual em que se encontra, na família ou grupo social, na nação e na história em que todas as nações colaboram”. “Contra o individualismo, a concepção fascista é pelo Estado; e é pelo indivíduo na medida em que este coincide com o Estado, que é a consciência e a vontade universal do homem na sua existência histórica”.


MANIFESTO FUTURISTA
(Publicado em 20 de Fevereiro de 1909, no “Le Figaro”)

1. Nós queremos cantar o amor ao perigo, o hábito da energia e da temeridade.
2. A coragem, a audácia, a rebelião serão elementos essenciais de nossa poesia.
3. A literatura exaltou até hoje a imobilidade pensativa, o êxtase, o sono. Nós queremos exaltar o movimento agressivo, a insónia febril, o passo de corrida, o salto mortal, o bofetão e o soco.
4. Nós afirmamos que a magnificência do mundo se enriqueceu de uma beleza nova: a beleza da velocidade. Um automóvel de corrida com o seu cofre enfeitado com tubos grossos, semelhantes a serpentes de hálito explosivo… um automóvel rugidor, que parece correr sobre a metralha, é mais bonito que a Vitória de Samotrácia.
5. Nós queremos glorificar o homem que segura o volante, cuja haste ideal atravessa a Terra, lançada também numa corrida sobre o circuito da sua órbita.
6. É preciso que o poeta prodigalize com ardor, esforço e liberdade, para aumentar o entusiástico fervor dos elementos primordiais.
7. Não há mais beleza, a não ser na luta. Nenhuma obra que não tenha um carácter agressivo pode ser uma obra-prima. A poesia deve ser concebida como um violento assalto contra as forças desconhecidas, para obrigá-las a prostrar-se diante do homem.
8. Nós estamos no promontório extremo dos séculos!… Por que haveríamos de olhar para trás, se queremos arrombar as misteriosas portas do Impossível? O Tempo e o Espaço morreram ontem. Já estamos vivendo no absoluto, pois já criamos a eterna velocidade omnipotente.
9. Queremos glorificar a guerra – única higiene do mundo –, o militarismo, o patriotismo, o gesto destruidor dos libertários, as belas ideias pelas quais se morre e o desprezo pela mulher.
10. Queremos destruir os museus, as bibliotecas, as academias de toda a natureza, e combater o moralismo, o feminismo e toda a vileza oportunista e utilitária.
11. Cantaremos as grandes multidões agitadas pelo trabalho, pelo prazer ou pela sublevação; cantaremos as marés multicores e polifónicas das revoluções nas capitais modernas; cantaremos o vibrante fervor nocturno dos arsenais e dos estaleiros incendiados por violentas lutas eléctricas; as estações esganadas, devoradoras de serpentes que fumam; as fábricas penduradas nas nuvens pelos fios contorcidos de suas fumaças; as pontes, semelhantes a ginastas gigantes que cavalgam os rios, faiscantes ao sol com um luzir de facas; os piróscafos aventurosos que farejam o horizonte, as locomotivas de largo peito, que pateiam sobre os trilhos, como enormes cavalos de aço enleados de carros; e o voo rasante dos aviões, cuja hélice freme ao vento, como uma bandeira, e parece aplaudir como uma multidão entusiasta.

Expressionismo
No final do século XIX pintores como Vincent Van Gogh e Paul Cézanne já manifestavam tendências expressionistas. Todavia, esse termo foi usado inicialmente em 1901 pelo pintor francês Julien-Auguste Hervé, para designar seus quadros. Entretanto, o primeiro manifesto expressionista é de 1910, que apresenta-se como reação à estética impressionista de valorização sensorial.
O expressionista tem a tendência de deformar a realidade de maneira cruel, caricatural, devido às profundas influências recebidas pela guerra. Assim sendo, faces amedrontadas e angustiadas são comuns em obras expressionistas.
Em um dos manifestos expressionistas – publicado em 1917 pelo poeta Kasimir Edschmid – há a preocupação em estabelecer os rumos a serem tomados pela literatura, mediante a visão expressionista:
“Assim o universo total do artista expressionista torna-se visão. Ele não vê, mas percebe. Ele não descreve, acumula vivências. Ele não reproduz, ele estrutura. Ele não colhe, ele procura. Agora não existe mais a cadeia dos fatos: fábricas, casas, doença, prostitutas, gritaria e fome. Agora existe a visão disso. Os fatos têm significado somente até o ponto em que a mão do artista os atravessa para agarrar o que se encontra além deles”.

Dadaísmo
De acordo com especialistas, o Movimento Dadaísta (ou, simplesmente, Dada) é, de certa forma, uma culminância dos outros três movimentos de vanguarda. Há quem diga que ele nasceu em um café em Zurique, Suíça, em 1916, onde se reuniam pessoas de várias escolas como o cubismo francês, o expressionismo alemão e o futurismo italiano. Outros dizem, porém, que o dadaísmo surgiu em várias cidades simultaneamente, mas ganhou ápice em Zurique.
Tristan Tzara
O objetivo é a destruição dos valores burgueses e a crítica social por meio do non sense.
André Gide assim define essa vanguarda: “(...) é o dilúvio após o que tudo começa”. Já a origem da palavra é um tanto controversa. Em romeno, ‘dada’ significa ‘sim, sim’. Em francês, é traduzido por ‘cavalinho’.
Foi na Literatura que a ilogicidade e o espontaneísmo dadaístas alcançaram expressão máxima. No último manifesto que divulgou, o romeno Tristan Tzara (mentor do movimento) disse que o grande segredo da poesia é que “o pensamento se faz na boca”. Foi dessa forma que ele orientou a composição de poemas dadaístas:



Pegue num jornal.
Pegue numa tesoura.
Escolha no jornal um artigo com o comprimento que pretende dar ao seu poema.
Recorte o artigo.
Em seguida, recorte cuidadosamente as palavras que compõem o artigo e coloque-as num saco.
Agite suavemente.
Depois, retire os recortes uns a seguir aos outros.
Transcreva-os escrupulosamente pela ordem que eles saíram do saco.
O poema parecer-se-á consigo.
E você será um escritor infinitamente original, de uma encantadora sensibilidade, ainda que incompreendido pelas pessoas vulgares.

Surrealismo

Com apoio nas teorias de Sigmund Freud e Karl Marx, o Surrealismo surgiu na França em outubro de 1924, quando André Breton (dissidente do Dadaísmo) lançou o Manifesto do Surrealismo.
O Surrealismo propõe que a arte flua livremente a partir do inconsciente, da livre associação, incorporando elementos de ilogismo, do idílio, da fantasia.
Quadro de Salvador Dali

Explorando os limites do real, estudando a loucura, os sonhos, os estados alucinatórios e quaisquer outros exemplos de manifestação do inconsciente, os surrealistas conquistaram uma imagem de impacto, que chega até nossos dias nas telas imortais de Salvador Dali, Juan Miró, Giorgio de Chirico e René Magritte, para mencionar apenas os mais conhecidos.