segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Literatura: arte que interpreta o mundo

"Admiro os poetas. O que eles dizem com duas palavras a gente tem que exprimir com mulhares de tijolos".
(João Batista Vilanova Artigas (1915-1985), arquiteto brasileiro)



A leitora, quadro de Renoir 

Para quê devo aprender isto? Qual é a utilidade desse conteúdo para a minha vida? Certamente indagações como essas estão impregnadas no bojo de adolescentes que estão iniciando a jornada no Ensino Médio. Recordo que eu próprio também me fazia tais questionamentos. Contudo, não encontrava quem respondesse às minhas inquietações de maneira satisfatória. Tive que aprender sozinho.
No que diz respeito à Literatura, descobri que ela é um segmento de arte, ou seja, é uma das formas de o homem se expressar com perfeição. Há quem diga que, por intermédio da obra literária, o autor pode conduzir o leitor à compreensão exata dos seus pensamentos, tal é o manejo do escritor com a linguagem.
E o que é a linguagem, se não aquilo que concebemos como real? O editor da revista Língua, Luiz Costa Pereira Junior, afirma que "a nossa relação com o mundo e as pessoas é determinada mais pelas versões dadas pela linguagem do que pelos acontecimentos reais". Isto é, a partir do que apreendemos por meio da linguagem é que forjamos nossa visão de mundo, e o real não é compreendido em sua totalidade, mas apenas interpretado de acordo com o que "vislumbramos".
O poeta moderno norte-americano Ezra Pound diz que "literatura é a linguagem carregada de significado. Grande literatura é simplesmente linguagem carregada de significado até o máximo grau possível".

Literatura x sociedade

Pois bem; a Literatura é um segmento artístico. Aristóteles já dizia que "a arte é uma mimese (imitação) da realidade". Ou, em outras palavras, é o retrato social de uma época.
Mas esse retrato não é, até por valer-se da linguagem da existir, idêntico à realidade. A literatura expressa uma supra-realidade, recriada a partir do seu olhar. Uma dada situação é "fotografada" pelos "olhos" do poeta.
Observe, por exemplo, como Carlos Drummond de Andrade "fotografou" o clima de medo que havia durante a Segunda Guerra Mundial:

Congresso internacional do medo

Provisoriamente não cantaremos o amor
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
.........................................................................
In:Reunião. 10.ed. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1980.  p.49



Texto Literário


A estética é uma das funções mais significativas do texto literário. Nele, o que se verifica não é sua semelhança com o real, mas a interpretação que dele se faz. William Blake sabia disso e afirmou: "A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê". Rubem Alves pontua esse conceito, nos introduzindo ao âmago da construção de obras literárias, quando diz que a percepção ocular é distinta nos seres. "Ver é muito complicado. (...) Sei disso por experiência própria. Quando vejo os ipês floridos, sinto-me como Moisés diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado. Mas uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de um ipê que florescia à frente de sua casa porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassoura. Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo", exemplifica o poeta em um artigo.
A plurissignificação é característica básica, que se relaciona com a estética. Ora, se um texto não foi escrito em sua função utilitária (preocupada em informar), abre-se a possibilidade de múltiplas interpretações e pode provocar os mais diversos sentimentos no leitor, em uma subjetividade que ratifica a definição de Pound, acima transcrita.
Outra característica intrínseca à Literatura é a documentação do imaginário, da ficcionalidade, ou seja, a simulação, o fingimento, a fantasia.

Gêneros Literários

Os gêneros literários designam a maneira pela qual os conteúdos literários se organizam em uma forma, por apresentarem estruturas semelhantes. A primeira divisão desses gêneros ocorreu na Grécia Antiga, feita por Aristóteles, que identificou três gêneros: lírico, dramático e épico.

Gênero lírico - é um certo tipo de texto no qual o eu lírico exprime suas emoções, idéias e impressões do mundo exterior. Normalmente é escrito em 1ª pessoa.

Gênero épico - há a presença de um narrador, que quase sempre conta uma história que envolve terceiros.

Gênero dramático - trata-se do texto escrito para ser encenado.


Historiografia Literária

Durante o Ensino Médio, além da habilidade interpretativa, o estudo literário baseia-se na comparação entre a produção e o contexto histórico, social e cultural no qual tal obra foi escrita.
Percebe-se, a partir desse estudo, que perdurará no mínimo até o final do 3º ano Médio, um movimento pendular da visão de mundo dos escritores. É a visão apolínea e a visão dionisíaca. A primeira enfatiza uma postura objetiva, racional em relação à vida. A segunda, trata de uma ótica mais subjetiva, emocional, idealista.

Estilos de época

Estilo de época é a denominação dada ao conjunto de traços e normas que orientam e caracterizam a produção artística de um determinado momento histórico.
A identificação de diferentes estilos de época orienta melhor o estudo das produções artísticas poiss a cada estilo de época corresponde uma escola literária, ou seja, um conjunto de características formais e de seleção de conteúdo evidente na obra de escritores e poetas que viveram em um mesmo momento.

domingo, 1 de novembro de 2015

Portugal: Literatura Medieval

Primeira Fase: Trovadorismo




Marco inicial: Canção da Ribeirinha ou da Guarvaia, de Paio Soares Taveirós (em 1189 ou 1198)

Poesia Trovadoresca

As obras de poesias trovadorescas eram chamadas de cantigas, por serem compostas atreladas à música. As cantigas se dividiam em dois grupos, a saber: líricas e satíricas. As líricas podiam ser de amor ou de amigo; as satíricas, de escárnio ou maldizer.

Cantiga de amor: o eu lírico (pessoa que fala no poema) é masculino e dirige-se à mulher amada, numa relação de vassalagem amorosa. O trovador trata a mulher de “senhora”. Essa mulher (normalmente casada) é sempre inalcançável, idealizada, fazendo com que o amor ao próprio amor, muitas vezes, seja maior do que o amor à mulher.

Cantiga de amigo: O eu lírico é feminino e dirige-se à natureza. No poema, a mulher normalmente queixa-se da falta do seu amado (que ela chama de amigo).

Cantiga de escárnio: sátira a uma pessoa ou aos hábitos culturais. Não há uma identificação precisa do “alvo” da poesia, mas um jogo de palavras, trocadilhos etc.

Cantiga de maldizer: sátira dirigida a uma pessoa identificada. Utiliza uma linguagem irônica e, por vezes, obscena.

Prosa
Nesse período, a prosa predominante era composta pelos livros de linhagem (nobiliários), cronologias (cronicões) e biografias dos santos (hagiografias). Havia, também, as novelas de cavalaria.

Segunda era: Humanismo
Marco inicial: 1434 - Nomeação de Fernão Lopes como cronista-mor do reino, durante a Dinastia de Avis.

Poesia Palaciana

Nesse período, a poesia se distancia da música. Por isso, ela passa por algumas inovações técnicas:

- Adoção de versos em redondilha (cinco ou sete sílabas poéticas);
- Uso da trova, do vilancete (poema composto por um mote de dois ou três versos, desenvolvidos em glosas) e da cantiga (poema composto por mote de quatro ou cinco versos e glosa de oito ou dez versos);

Prosa

Fernão Lopes escreveu três crônicas:

- Crônica de el-rei D. Pedro I: compilação e crítica dos principais acontecimentos do reinado desse monarca, conhecido como “Pedro, o Cru”;
- Crônica de el-rei D. Fernando: reconstituição do período que se inicia com o casamento de D. Fernando com Dona Leonor Teles e encerra-se com a revolução de Avis;
- Crônica de el-rei D. João: dividida em duas partes. A primeira, começa com a morte de D. Fernando, em 1383 e termina com a revolução que leva D. João I ao trono. Na segunda, descreve-se o reinado desse monarca, até 1411.

Teatro
Gil Vicente (1465?-1536) é considerado o iniciador do teatro português. Suas obras têm um caráter popular, diferenciando-se do teatro religioso produzido até então. Entre suas obras, destaca-se a Trilogia das Barcas (Auto da Barca do Inferno, Auto da Barca do Purgatório e Auto da Barca da Glória).